As novas tecnologias em reprodução assistida têm possibilitado que cada vez mais pessoas inférteis realizem o sonho de terem filhos. No entanto, os tratamentos também podem aumentar o risco de gestação múltipla, quando mais de um bebê é gerado ao mesmo tempo.
De acordo com o médico ginecologista obstetra e presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Dr. Alvaro Pigatto Ceschin, cerca de um terço dos gêmeos origina-se a partir de um único ovo e são denominados monozigóticos. “Os outros dois terços originam-se de ovos diferentes, sendo denominados dizigóticos. As incidências espontâneas de gestações dizigóticas duplas, triplas e quádruplas, são respectivamente, de 1 em 80, 1 em 7.000, 1 em 600.000, sendo a incidência de gestações monozigóticas em torno de 3,5 em 1000 nascimentos”, esclarece.
Segundo o Dr. Ceschin, a utilização de drogas indutoras da ovulação, bem como o número de embriões transferidos para o útero, influi nessa incidência. Na transferência de três embriões, a chance de gêmeos é de 25%, enquanto a de trigêmeos é de 8,3%. “A incidência de gestações monozigóticas também aumenta em gravidez resultante de tratamento de infertilidade, chegando a 13 em cada 1000 nascimentos”, completa.
Na visão do presidente da SBRA, este risco aumentado de gestações múltiplas precisa sempre ser ponderado com os pais. “Apesar de algumas vezes ser este o desejo do casal, com o aumento do número de fetos há um incremento de complicações como anemia, hiperemese gravídica, síndromes hipertensivas, diabetes gestacional, trabalho de parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino”, explica.
O médico também assegura que a síndrome de transfusão feto-fetal e a possível morte de um gemelar são eventos que podem levar à interrupção antecipada da gestação, sendo esta complicação recentemente abordada na novela das 21h da Globo ‘Um Lugar ao Sol”. Na história, a grávida de gêmeos Ilana (Mariana Lima) verá um sangramento virar estopim para uma nova crise no casamento com Breno (Marco Ricca).
Segundo o Registro da Rede Latino Americana de Reprodução Assistida (REDLARA), houve uma diminuição do número de embriões transferidos para o útero nos últimos 20 anos, de 3,2 embriões em 2000 para 1,8 embriões do ano 2018. Isso ocorreu porque, com os riscos de gemelaridade e suas complicações, há indicação de transferir menos embriões ao útero – preferencialmente apenas um.
A mudança fez com que o índice de partos múltiplos caísse de 31,2% para 17,7%. As ocorrências de trigêmeos ou mais caíram ainda mais: de 7,7% em 2020 para somente 0,4% em 2018. “Esta tendência demonstrada no registro reflete a do nosso país”, afirma o Dr. Alvaro Ceschin.
“A evolução dos meios de cultivo, estufas e estrutura dos laboratórios de reprodução humana assistida tem feito com que cada vez mais colegas da SBRA incentivem suas pacientes a transferir apenas um embrião para a cavidade uterina, com prognóstico de gravidez muito favorável e baixo risco de gemelaridade”, conclui o presidente da SBRA.