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Mães de proveta: entenda o turbilhão de emoções da maternidade por reprodução assistida

A maternidade é um sonho que vai além da decisão íntima de ter um filho. E nesse processo são inúmeros os sentimentos e desafios sociais, biológicos e financeiros encontrados por casais que buscam o tratamento de reprodução assistida.

No contexto social, a experiência de vivenciar os tratamentos reprodutivos passa por questões que envolvem dilemas como carreira e relacionamentos, como explica a doutora Kátia Straube, psicóloga com capacitação em reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida – SBRA. “Embora muitas mudanças sociais tenham ocorrido e as mulheres tenham conquistado novos espaços, seja no mercado de trabalho, seja no contexto educacional, uma grande parte delas deseja encontrar um parceiro e construir família”, explica.

Ainda segundo a psicóloga, as mudanças sociais interferiram diretamente neste projeto e hoje há uma tendência a postergar a vinda da prole em função da realização de outras prioridades, não apenas da mulher, mas também do casal. “Ao protelar a decisão, essas mulheres encontram limitações que são sentidas e vividas como verdadeiras ‘sentenças’”, impasses para a realização do direito a procriar, um desvio de rota que traz surpresas, principalmente se considerarmos o mundo em que vivemos e que estimula planos, projetos, e metas a atingir, com vistas à produtividade.

Emoções à flor da pele – Seja pela medicalização necessária, seja pelas constantes idas à clínica, ao iniciar a jornada de reprodução assistida, as mulheres se veem expostas a um turbilhão de emoções. “Seja pelas saídas no trabalho, seja pela expectativa quanto a resultados, elas lidam com medo, frustração, angústia, ansiedade e desesperança. São as emoções que costumam estar presentes nas situações mais complexas do viver humano”, comenta a doutora Kátia Straube.

Crenças culturais – As crenças culturalmente transmitidas ligadas à infertilidade também são uma premissa contraditória presente, que geram ainda mais frustração e desencadeiam emoções ainda mais complexas.

Segundo Kátia Straube, nos casos de infertilidade, isso é intenso, pois traz sentimentos de luto por um corpo que era pensado como fértil, saudável e forte. “A perda de confiança no próprio corpo pode desencadear fortes emoções. Além de negação e revolta, há a culpabilização, ou seja, projeção da culpa para o parceiro. As emoções são características de quem vive um estigma, que, como sabemos, é uma espécie de rótulo social dado por algum traço depreciativo e, assim, pode trazer profundos sentimentos ligados ao estar fora das normas estabelecidas, isolamento social, dentre outros”, explica.

Como lidar com os sentimentos – Para a psicóloga, incrementar o autocuidado, de modo amplo, é essencial para lidar com essas emoções durante o processo de reprodução assistida. “Cuidar da qualidade de vida, cultivando hábitos saudáveis de alimentação, atividade física, sono, equilíbrio entre prazer e dever, vida profissional, familiar e social que forneçam uma rede de relações funcionais e prazerosas, é muito importante”, comenta.

Ainda segundo Kátia Straube, é fundamental também buscar espaço de escuta em que se possa dar voz às emoções, em um ambiente acolhedor e empático. “É preciso estar atento a esse momento delicado, que sugere uma gestão de travessia a partir do autocuidado para potencializar a resiliência, bem como ressignificar a experiência como oportunidade de desenvolvimento pessoal e conjugal”, conclui.

Por Luara Nunes, Conversa – Estratégias de Comunicação Integrada

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