De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito atual de saúde está ligado ao bem-estar bio-psico-sócio-espiritual, o que direciona para uma compreensão integral do ser humano. Significa que todos esses fatores atuam no processo saúde-doença e se relacionam de modo interdependente.
No caso da infertilidade, isso também acontece. De acordo com a psicóloga clínica especialista em terapia individual e de casal, Kátia Straube, essa é uma questão interessante porque, embora atualmente se fale mais sobre os fatores psicológicos presentes nas mais diversas enfermidades e suas inter-relações, ainda há muitas dúvidas neste sentido. Muitas situações em que os fatores psicológicos são completamente deixados de lado em detrimento dos fatores somáticos.
“Há vários estudos no mundo que investigaram as relações entre estresse e infertilidade, estudos que constatam a relação entre ambas as situações, demonstrando que altos níveis de hormônios ligados ao estresse podem afetar a fertilidade e estudos que dizem não ser possível essa afirmação. A visão atual é a de que não podemos afirmar que o estresse é fator causal da infertilidade, porém, sabemos que a infertilidade é geradora de estresse pelas demandas psicoemocionais que origina”, explica a especialista em psicologia na reprodução humana.
Portanto, ambas as situações caminham juntas e quando um casal ou indivíduo recebe um diagnóstico de infertilidade, ele está diante de um potencial agente estressor, que pode atuar em diferentes graus e intensidades, e se expressar de modo diferente entre os membros do casal. Essa condição deve ser alvo da equipe multiprofissional de reprodução assistida envolvida na atenção prestada aos pacientes.
“Creio que o maior temor dos pacientes é não conseguir engravidar, mesmo com os tratamentos reprodutivos, com a utilização do que há de mais avançado no campo da biotecnologia reprodutiva. Este temor eleva a ansiedade, pode levar ao estresse, pode vir acompanhado de vários outros medos possíveis, relacionados ao gestar, ao ser pai ou mãe, às demandas do projeto de constituir família, a questões específicas de cada caso”, comenta a psicóloga.
Kátia também falou sobre os fatores psicológicos que influenciam na fertilidade. “Penso que um dos fatores principais é sentir que está em um bom momento para viver a parentalidade e seus desafios, sentir-se preparado para vivenciar esse investimento afetivo-emocional a começar pela gestação. O fator qualidade e estilo de vida é também reconhecidamente relevante para a fertilidade e tem sido demonstrado por vários estudos”, garante.
Ela aproveitou para dar dicas para pessoas que sonham com a maternidade/paternidade. “Faz parte desta busca pela fertilidade, obter informações consistentes sobre seu caso específico, junto à equipe multiprofissional de fertilidade, buscando informações de fontes confiáveis. A possibilidade de compartilhar experiências com quem já viveu ou está vivendo situação similar, por exemplo, participando de grupos de apoio específico sobre as questões de fertilidade. Melhorar a qualidade de vida, o fator nutricional, o preparo físico, considerar os hobbies”, diz a psicóloga.
Embora seja uma questão atemporal, os problemas da fertilidade ainda prescindem de melhor compreensão visto que tendem a vir carregados de mitos, tabus e despreparos. “As oportunidades de conscientização, de espaço para maior visibilização do tema, de atendimento especializado, de formação de pessoal qualificado, de equipes multiprofissionais preparadas, com a presença do profissional psicólogo são demandas imprescindíveis, atualmente, para se reduzirem as chances de estigmatização social, o que atenua as dores da experiência, bem como contribui para uma adequada prestação de serviços centrada nas necessidades dos pacientes”, conclui Kátia Straube.